Tá Vendo Aquele Edifício, Moço?

Tá Vendo Aquele Edifício, Moço?

 

Tá Vendo Aquele Edifício, Moço?Qual legado você, enquanto síndico (a), deixou em cada condomínio em que foi gestor? O poeta baiano Lúcio Barbosa, na década de 1970, fez essa provocação, retratando em uma de suas frases do poema Cidadão. Barbosa, trabalhou temas como: a invisibilidade, os desafios e os preconceitos pertinentes aos trabalhadores da construção civil à época.

Debruçado sobre cada frase do poema, despertou o desejo de dialogar sobre sentimentos, desafios e lutas pelo reconhecimento do papel da sindicatura, que vivenciamos diariamente, dentro dos muros dos condomínios.
Aqui, o poeta retrata toda uma projeção de sentimentos, e que sua inquietude não vem do seu trabalho braçal, mas evidencia sua tristeza, de não ter seu trabalho reconhecido, como um agente transformador social.

Traduzindo o poema para o mercado condominial, sobre a demanda da invisibilidade do papel do síndico(a), como um grande desafio, que os profissionais da sindicatura, devem lutar para mudar. Os indivíduos que residem em condomínios devem reconhecer e valorizar a importância do papel do síndico(a), como sendo preponderante para evitar o colapso desses empreendimentos.

O escritor português José Saramago (1922-2010), no seu romance “Ensaio sobre a cegueira (1995)”, discorre sobre a representação do olhar, questão que acompanha toda história do pensamento filosófico ocidental.

Michel Foucault, (1926-1984) faz uma provocação social, para que deixamos a nossa cegueira, iluminando-a. E uma das formas de deixarmos a cegueira social é através da ruptura da ignorância.

Cabe a nós, profissionais da sindicatura, fazermos com que a massa condominial consiga perceber a invisibilidade do visível, ou seja, o visível só o é, para quem tem o discernimento de percebê-lo.

Edifícios, condomínios, prédios, seja qual substantivo que desejamos usar, o que gera vida a esses empreendimentos são pessoas. Afinal, condomínios são muito mais que concretos: são o retrato da nossa sociedade.

Para o psiquiatra e psicanalista Enrique Pichon Rivière, o sujeito social se constitui na relação do outro. O homem é um ser de necessidades, que se satisfazem socialmente nas relações que o determinam.

A invisibilidade social está composta a partir de aspectos sociais e psíquicos, sendo mantida por modelos sociais. Existem múltiplos fatores que contribuem para que a invisibilidade social ocorra: histórico, cultural, contextual/social, religioso, econômico, estético etc.

Passar e não enxergar, olhar e não ver, qual seria a razão desse comportamento, diante de trabalho que os síndicos, diariamente produz?

As razões podem ser diversas, mas aprecio a leitura do sociólogo Bauman, sobre o comportamento de uma geração que a diferencia como “líquida”. Bauman defende uma nova época em que as relações sociais, econômicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos.

Outra janela que podemos observar, vem pelo termo “Coisificação”. É comum, dentro dos condomínios, muitos proprietários não saberem o nome do gestor do seu patrimônio, chamando-o apenas de “síndico(a)”. Parece bobagem, mas temos uma identidade, um nome, e devemos ser reconhecidos dessa forma. Quando somos chamados e reconhecidos apenas pela função que exercemos naquele condomínio, reduzimos nossa importância e acabamos nos tornando descartáveis para aquele público.

É necessária uma sensibilização em massa, uma educação coletiva para que o trabalho da sindicatura seja valorizado frente aos proprietários e principalmente junto aos grupos de conselho, que militam nas demandas diárias do condomínio. É notório que temos um caminho que já foi percorrido. Basta olharmos para trás e lembramos a rejeição que sofríamos das administradoras.

Hoje, a preferência é pela gerência deste profissional. Entidades de classe, por desconhecimento, repudiavam e não recomendava esse tipo de contratação de sindicatura profissional. Essa quebra de paradigmas somente foi possível graça aos trabalhos realizados com maestria, pelos colegas síndicos (a) que, movidos com muita determinação e paixão, não desistiram e apostaram neste mercado.

Segundo Cortella, que aprecio muito, liderar é atingir resultados através das pessoas. Esse pensamento cabe perfeitamente na sindicatura profissional, para um futuro de reconhecimento e respeito a esses profissionais.

Voltando ao questionamento do início do poema:

– Tá vendo aquele edifício, moço?

– Lógico que vi! Gostei tanto, que sou a gestora, e exerço a sindicatura com muito orgulho! Legado? Sim, esse é o meu!

Tá Vendo Aquele Edifício, Moço?

 

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