O síndico do futuro
É verdade que esse período de pandemia catalisou uma série de mudanças na nossa sociedade – e a área de condomínios não ficou de fora. Foram muitas novas situações a serem resolvidas, muitas perguntas sem respostas, e muita dor de cabeça nova em condomínio.
“Esse caldeirão trouxe uma nova etapa para quem é síndico, e principalmente síndico profissional, e acabou acelerando uma série de tendências que já estavam acontecendo, além de trazer muitos novos conceitos também”, apontou Marcio Rachkorsky, advogado especializado em condomínios e co-fundador do SíndicoLab.
O tema “síndico do futuro” foi discutido na palestra dada por Marcio, no Secovi-SP, em que foi conceituado como deve ser este profissional no futuro. O encontro foi mediado por Sergio Meira de Castro Neto, da vice-diretoria de condomínios da entidade, com apresentação de Moira Toledo, diretora executiva da mesma diretoria.
Premissas para a atuação do síndico
Com tantas novidades trazidas pela pandemia, algumas delas até já se consolidaram na vida em condomínio. Confira as quatro principais, elencadas pelo especialista:
– Síndico é essencial: Se antes, a expressão ‘não serve para síndico de prédio’ já era injusta, agora ela se torna uma personificação de desconhecimento da importância do trabalho do síndico. “Este isolamento social todo serviu para mostrar como ter alguém para tomar à frente, e as decisões, nos condomínios é fundamental”, assinalou Marcio;
– Burocratas cada vez mais enfraquecidos: Sabe aquele condômino que barra qualquer mudança pelo apego exagerado ao que está na convenção, mesmo que seja uma minúcia? Essas pessoas estão cada vez mais com os dias contados. “Durante muitos meses, tivemos que tomar decisões colegiadas, baseadas, principalmente, nas necessidades da maioria, e muitas vezes sem o quórum qualificado estipulado pela convenção. Quando se trata da vasta maioria, o Judiciário tem, sim, entendido, que às vezes vale o que foi decidido – mesmo que não esteja claramente na convenção”, aponta ele;
– Condomínio não é empresa: Ninguém seria louco de dizer que gerir um condomínio se compara com a complexidade de uma empresa. Porém, no cotidiano, não devemos comparar as duas coisas. “O condomínio é uma reunião de vizinhos que fazem vaquinha para pagar os gastos no fim do mês”, conceitua Marcio.
– Síndico também tem vida: Com tanta coisa para resolver, algo ficou claro: os síndicos também precisam de um tempo para si, e estar disponíveis 24h por dia, sete dias por semana não é sustentável. “Nós não somos máquinas. Somos pessoas que também precisam ficar com a família, ter um momento de descanso”, explica.
O perfil do síndico do futuro
Marcio elencou , então, 15 características que, ele acredita, estarão presentes no perfil do síndico do futuro. Confira:
- Remunerado. Mesmo sendo morador, o síndico futuro deverá receber para tocar essa responsabilidade enorme que é o condomínio;
- Bem preparado. Se hoje e dia quem não está a par do que está acontecendo tem cada vez menos espaço no mercado, imagine daqui a cinco, dez anos? Investir em conhecimento e reciclagem, frequentar cursos será obrigatório;
- Altamente tecnológico. O síndico do futuro não precisa saber de programação ou TI. Mas vai ter que entender bem de tecnologia embarcada nos produtos e serviços que estarão disponíveis para os condomínios. Isso, além de ‘encher os olhos’, também mostra que o gestor está de olho nas novidades do mercado.
- Tem bons parceiros e vínculos comerciais. A pandemia também deixou isso mais claro: quando o síndico profissional atuava em um empreendimento com uma equipe que ele escolheu, as coisas fluíram melhor. Se os parceiros do gestor têm um preço competitivo e o mesmo nível de serviço, por que não deixá-lo escolher com quem trabalhar?
- Abusar da administradora e do jurídico. O síndico profissional, por si só, já conta com tarefas e responsabilidades demais. Confiar e demandar mais da administradora e do seu parceiro jurídico só vai oferecer mais qualidade e segurança para os seus serviços
- Focado em manutenção. A pandemia abriu, ainda mais, os olhos dos moradores para a importância de se cuidar antes das necessidades das áreas comuns. Deixar o condomínio feio, com cara de mal cuidado, é um caminho curto para perder o cliente.
- Agilidade ao extremo. Do síndico profissional já se exige agilidade, mas está cada vez mais presente essa necessidade – de preferência no mesmo dia. Mesmo que seja para explicar que não tem a resposta, mas que vai se inteirar e que retorna.
- Pode contar com um bom ‘linha de frente’. Poder contar com um apoio de qualidade no condomínio pode fazer a diferença entre encantar um novo cliente ou não. Quem tem um gestor predial “mão na massa”, que está todos os dias no condomínio para resolver 90% das demandas do cotidiano e filtrar as outras para você, síndico profissional, com certeza está à frente.
- Usa pesquisas e enquetes com regularidade. Saber como estão os ânimos e demandas dos condomínios não depende, necessariamente, de assembleias. Usar enquetes e pesquisas no portal da administradora, ou do próprio condomínio, pode ajudar a nortear uma série de decisões – e os condôminos ainda se sentem ouvidos.
- Hábil da comunicação. O síndico deve saber como se comunicar bem com os condôminos. Pode ser uma circular quinzenal, um vídeo via linha de transmissão toda semana, como ele preferir. Mas deixar claro o que está sendo feito, além de estar disponível para trocar com os condôminos, é cada vez mais importante
- Não é submisso ao conselho. É fato que, cada vez mais, as decisões serão tomadas de forma colegiada. Porém, o síndico é o responsável legal pelo condomínio. É importante que o gestor não se sinta refém do conselho.
- É um especialista no seu nicho. Saber muito sobre um nicho de mercado é algo que realmente vai diferenciar os síndicos profissionais e o que pode fazer a diferença para um gestor se tornar uma autoridade naquilo. Pode ser empreendimentos clube, do tipo AAA, ou de prédios antigos. O importante é se especializar para poder se diferenciar.
- Não faz economia ‘burra’. Não vale a pena economizar a qualquer custo. O síndico do futuro sabe da importância de se gastar com sabedoria, apostando sempre na qualidade e na competitividade dos serviços e produtos empregados.
- Gentil e disponível. O síndico profissional do futuro consegue atender bem à coletividade, mesmo quando a situação o desfavorece. Não dá para ser grosseiro, ou mesmo se irritar e responder mal aos condôminos.
- Renuncia com tranquilidade. Muitas vezes, o síndico profissional que observa que o clima não está favorável para o seu mandato, sem condições de seguir, renuncia.
Além dessas características, Marcio destacou também a importância de se trabalhar bem em time.
“Se cercar de bons parceiros, sejam eles funcionários do condomínio ou fornecedores, é algo que agrega valor ao trabalho e também o facilita”, aponta ele.
Moira Toledo, da vice-presidência de condomínios do Secovi-SP, concorda. “Não há outra forma de se construir esse futuro, que não seja colaborativo”.