O mal do whatsapp
As ferramentas tecnológicas auxiliam muito o trabalho de nós síndicos, isso é inegável. Quem imaginaria que receberíamos tantos relatórios, orçamentos e demandas de trabalho por meio do WhatsApp? O e-mail está quase que desaparecendo de cena. É prático, é ágil? Sim, sem dúvida alguma. Porém, o uso desenfreado desses aplicativos de trocas de mensagens tem se tornado um dos nossos maiores vilões do dia a dia. O que era um benefício tem se tornado um malefício em nossas vidas.
Estamos vivendo uma era bastante conturbada, e com a pandemia vivenciamos na pele situações e emoções que jamais tínhamos vivido ou mesmo pensado em viver antes. Estamos mais sensíveis, impacientes e preocupados com o futuro. As pessoas estão cada vez mais estressadas, imediatistas e te exigem respostas que muitas vezes não são possíveis de serem atendidas instantaneamente.
Todos os dias tenho me questionado se as informações não estão sendo duplicadas, triplicadas, multiplicadas sem a menor necessidade. Hoje a pessoa te liga, se você não a atende logo ela te manda um e-mail e também te escreve pelo WhatsApp solicitando exatamente a mesma coisa. E com urgência, claro! A facilidade e agilidade que o aplicativo nos fornece acabam no final se tornando algo que mais nos complica a vida.
Nós síndicos não estamos conseguindo trabalhar e desenvolver a gestão que verdadeiramente gostaríamos dentro dos condomínios. E isso é generalizado. Me policio todos os dias para continuar a rotina de verificar as áreas comuns, acompanhar os serviços dos fornecedores, conversar com os funcionários e condôminos, analisar as finanças, pois esse é o nosso trabalho. Como dosar o tempo?
Quando entro em uma reunião já fico ansiosa só de pensar em quantas mensagens encontrarei depois que terminá-la. Nosso dia a dia tem se resumido a escrever comunicados (porque as pessoas estão cada dia mais sedentas de informações) e nos perdermos nas inúmeras e repetitivas mensagens no aplicativo. É um caminho sem fim. Estamos reféns de algo que não temos controle porque somos obrigados a estar dentro disso. O importante está se confundindo com o desnecessário. Como filtrar o que realmente é relevante?
As pessoas sentem-se mais confortáveis em escrever o que bem entendem pelo aplicativo, sem o menor pudor ou respeito. Uma explosão sem limites. Recebemos diariamente mensagens com linguagem um tanto agressiva, que nada mais é do que descontentamentos pessoais arremessados em cima de nós, em horários totalmente impróprios e nossa privacidade totalmente desrespeitada. Isso quando você não lê nem um “bom dia” ou “boa noite”. E os áudios sem fim? Perdeu-se o controle.
Uma pesquisa realizada no ano passado nos Estados Unidos por uma empresa de publicidade revelou que, em média, as pessoas checam o aparelho celular 110 vezes por dia. Gostaria de saber a minha média.
Entendo que há alguns sinais de que o WhatsApp está nos fazendo mal tanto em nossas vidas quanto em nosso trabalho:
O primeiro e mais preocupante a meu ver é a dependência psicológica que ele causa. É um tipo de vício e nos tira o controle. Acabamos tendo comportamentos antissociais por estarmos totalmente sujeitos ao aplicativo e isso atrapalha nossa rotina, nossa vida pessoal, nossa relação com as pessoas e nossa mais preciosa necessidade: o nosso sono. Em suma, perdemos a qualidade de nossas vidas.
Em segundo lugar eu diria que seria a exposição desnecessária a que somos inseridos. Qual a intenção que as pessoas têm de ficar nos expondo perante outras pessoas em grupos? E me questiono todos os dias sobre a verdadeira funcionalidade de todos eles.
O terceiro sinal é a falta de foco: estamos fazendo cada dia mais atividades ao mesmo tempo e os resultados podem ser desastrosos. Como síndicos, assumimos uma responsabilidade gigantesca. Gerenciamos pessoas e bens, lidamos com o patrimônio dos outros e não podemos errar. Somos responsáveis pela vida e integridade das pessoas. Como não se perder dentro de toda essa turbulência?
No dia 4 de outubro, quando por cerca de seis horas seguidas tivemos a interrupção do Instagram, WhatsApp e Facebook senti um alívio que não sentia há muito tempo! Aí, no final da tarde, voltamos a realidade.
Por fim, gostaria de deixar algumas dicas a meus colegas para suavizar as suas interações com o aplicativo:
- Deixar claro os horários e dias em que você está disponível para atendimento;
- Mostrar às pessoas de que existe diferença entre urgência e emergência;
- Silenciar alguns grupos em que achar necessários;
- Tente equilibrar sua rotina de vida e trabalho com as ferramentas digitais;
- Viva sua vida com mais tranquilidade e menos pressão!
* Isabelle Lavin é formada em jornalismo(FMU), bacharel em fotografia (SENAC), MBA em marketing pela ESPM e EADA de Barcelona. Síndica profissional há 7 anos.
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