Eleições e grupos de WhatsApp: falta de respeito e inimizades gratuitas.
Estamos vivendo uma época muito agitada por conta das eleições que se realizam em território nacional. Neste momento político, onde é dado a cada um o dever ( sim dever, não é apenas um direito) de escolher quem vai representar os interesses coletivos através das opiniões pessoais de cada um, mais do que nunca, é necessário que haja respeito.
Respeito ao direito de expressão, ao direito de opinião, ao direito de agir de acordo com os valores, ideias e repertórios individuais de cada um. Ninguém, mas absolutamente ninguém, tem o direito de julgar ou opinar sobre a escolha do outro. Já basta a mídia e o infindável cerco de fakenews que já tentam fazer cortina de fumaça e direcionar as opiniões daqueles que são menos informados ou que não têm a possibilidade do exercício do senso crítico.
Alguns são jovens e não viveram. Outros viveram e se traumatizaram. Outros mudaram de opinião. Assim sendo, quem é que tem o direito de julgar quem eu escolho para me representar? Ninguém! Afinal, a boa e velha frase “ cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é“ é mais que boa poesia de Caetano Veloso. É uma verdade.
Assim, apesar de parecer lógico que não adianta muito argumentar para convencer alguém que um político X será pior ou melhor que um Y, os dias atuais têm demonstrado que não é a lógica, nem a educação que andam ditando as regras em grupos de WhatsApp.
A quantidade de desavenças que terminam com “ vamos nos encontrar lá em baixo para resolver isso de outra forma” ou pessoas saindo dos grupos após terem sido vítimas de preconceito é algo assustador. Não me refiro apenas aos grupos de condomínio, mas aos de amigos e familiares.
Ao que parece, a polarização que o mundo vive está permeando todas as relações humanas, não poupando nem os laços de sangue. Uma pena porque governantes entram e saem, já relações de vizinhança e amizade podem se romper de forma definitiva e acarretam em perdas imediatas e irremediáveis para nosso cotidiano. Não será a longo prazo. Será semana que vem que não haverão mais jogos de futebol nas quadras e troca de figurinhas entre os filhos dos compadres que brigaram. Nada mais de de café da tarde na casa da Tia. Nem troca de receitas no grupo da família já que estamos enxotando aqueles que são diferentes. Vamos viver só entre iguais. Com os mesmos defeitos de antes e sem os benefícios da salutar convivência em grupo.
O cientista Charles Darwin ( 1809- 1882 ), em sua teoria evolucionista descreve que um dia surge um ser diferente, mais adaptado a alguma situação e, exatamente por isso, ele se sobressai e sobrevive. Bom, na lógica do grupo de WhatsApp isso já não prospera, pois na maioria deles, quem pensa diferente é banido. Pensar de forma diversa incita novos debates e novas ideias e, dessa forma, podemos avaliar por outros ângulos velhas situações. Mas de cabeça fresca, com empatia, e, principalmente, com ética.
Se desejamos viver a democracia temos de nos lembrar que o princípio básico que a norteia é o da pluralidade de pontos de vista. O rumo que o grupo tomará será a resultante dessas opiniões, alinhadas exatamente pelo desejo da maioria. Sim, é uma escolha que privilegiará o desejo da maioria, que não necessariamente representará o desejo de todos. Mas, como temos de agir com empatia, temos de ouvir a opinião de todos para avaliarmos, nos colocar no lugar do outro para entender outro ponto de vista e, quiçá, mudarmos.
Como clamamos por direitos, temos de nos submeter aos deveres da vida cívica e, exatamente, acatar a autoridade de um representante que não é o nosso escolhido. Sem dúvida alguma não é tarefa fácil – ainda mais num grupo de WhatsApp cheio de memes e piadinhas- , mas de toda forma, um avanço para a infindável evolução do homem, que afinal de contas, se dispôs a sair das cavernas.
Lígia Ramos é síndica profissional, arquiteta e bióloga
Eleições e grupos de WhatsApp: falta de respeito e inimizades gratuitas.