A renúncia do síndico profissional
Imagine a situação: algo deu errado na gestão do condomínio – uma coisa que pode ser sua responsabilidade, ou um cenário que você previu acertadamente, mas que nem administradora ou conselho deram ouvidos, ou mesmo se mobilizaram para alterar. Como consequência, agora, pedem a renúncia do síndico profissional.
Mas é obrigatório renunciar a pedido do conselho ou da administradora? Não.
“Se quem elegeu o síndico foi a assembleia, é a mesma assembleia que tem o poder de tirá-lo da gestão”, aponta o advogado especializado em condomínios André Luiz Junqueira.
Porém, vale a pena continuar em um condomínio onde o clima está pesado?
É difícil dizer, e só cabe ao síndico profissional em questão decidir. Há, porém, gestores que se encontram nesta situação desconfortável.
Para isso, o remédio pode estar, justamente, na assembleia.
“Quando o clima começa a pesar, ou se vejo que algo estranho está acontecendo, eu mesmo procuro convocar uma assembleia e expor a situação. Dessa forma, fica tudo às claras com os condôminos”, aponta o síndico profissional Aldo Busoletti.
“Muitas vezes saí mais forte de uma situação assim, porque aí fica claro, para todos, que a maioria ainda optou por mim como síndico”, explica ele.
Convocar uma assembleia para discutir um síndico novo – ou a continuação do atual no cargo também é um bom caminho para ‘acalmar a minoria que faz muito barulho’.
“No pós-eleição, sempre tem duas ou três pessoas da oposição que são o que chamamos de ‘minoria que faz barulho’”, aponta Aldo. “Com a decisão assemblear, você sai fortalecido, porque a maioria segue ao seu lado”, pesa.
Oposição que vem de dentro
Porém, não é sempre que o pedido de renúncia – ou críticas infundadas à gestão condominial – têm origem nos moradores.
Há casos em que entidades que deveriam ser de parceria, como a administradora, ou até o conselho, é quem procuram se resguardar e acabam pedindo a renúncia do gestor.
Betina Glina é síndica profissional há dez anos e estava passando por uma situação do tipo.
“Quando comecei o trabalho neste condomínio, eu era auxiliar de uma síndica profissional. Conheço bem o empreendimento e já estava na minha terceira gestão”, conta.
O atrito estava tanto na administradora como no conselho, devido ao momento financeiro delicado que o condomínio atravessa.
“Realmente, é verdade que estamos com problemas financeiros. Porém, consta nas atas das reuniões com o conselho que estou propondo um aumento na arrecadação. Agora chegou um momento emergencial e querem me responsabilizar por algo que avisei que aconteceria”, explica.
Ao receber o pedido de renúncia, Betine chamou uma assembleia para ‘bater o martelo’ com a maioria dos condôminos.
“Tive o voto de 75% dos presentes para seguir no cargo, mas mesmo assim achei melhor renunciar. Para a gente trabalhar, como síndico profissional, precisa ter muita confiança nos parceiros”, conclui.
E quando a assembleia de eleição do síndico vira debate na Justiça?
É o que aconteceu com a síndica profissional Larissa Lacerda: uma senhora, que concorreu com ela à vaga de gestora do condomínio, perdeu a eleição. Desde então, a moradora entrou com uma ação na Justiça, para impugnar a assembleia em que foi vencida nas urnas.
Com a ação judicial, a síndica profissional teve que contratar um advogado especializado para se defender – assim como a administradora de condomínios – e comprovar que a assembleia transcorreu sem problemas, e que atendeu às demandas expressas na convenção.
“Tudo que eu faço é com a anuência do conselho. Mesmo assim, ser acusada de algo mexe com o nosso psicológico”, explica a síndica profissional Larissa Lacerda.
À síndica profissional não foi pedido que renunciasse mas, mesmo assim, ela está considerando a possibilidade.
“Meu advogado pediu para eu esperar o fim da ação judicial antes de tomar qualquer atitude”, conta.
Até lá, ela deve seguir à frente da gestão do condomínio – mas parece que será este o prazo do mandato da gestora.
“Mesmo que a assembleia não seja impugnada, no que eu acredito, já que estava tudo dentro da lei, eu não devo ficar”, pondera.
Nem sempre renunciar é ruim
Quando o síndico profissional está em dúvida sobre se deve renunciar ou não, é fundamental levar um fator em consideração: o desgaste.
“Infelizmente, em alguns condomínios a gente renuncia e sente que foi um livramento mesmo. Às vezes você realmente não fez nada de errado, mas é uma situação tão ruim, que pode não valer a pena mesmo seguir no empreendimento”, pontua Marcio Rachkorsky.
Por isso, mesmo sabendo que fez o possível para a sua gestão, é importante pesar e levar o desgaste em conta, para saber se realmente vale a pena seguir com um mandato ou não.